Publicidade

Gota

Resumo gota

N2320/doencas/gotaA gota é uma doença reumática que geralmente afeta as articulações, especialmente a base conjunta do dedão do pé em 75% dos casos. Esta condição, frequentemente crônica, é caracterizada por inflamação grave da articulação que muitas vezes provoca dor muito forte. A dor causada por esta doença é muitas vezes atroz. A gota é uma forma de artrite.
A principal causa da gota são os elevados níveis de ácido úrico no sangue (acima de 6,8 mg/dL, sem solubilização de ácido úrico). Esta molécula viaja através da corrente sanguínea e, em seguida, se acumula nas articulações na forma de cristais, o que provocam uma reação inflamatória e dor severa.

Publicidade

A gota é mais frequente em homens, particularmente após os 40 anos, no entanto, pode acometer em mulheres, sobretudo após a menopausa.pn-gout-p-v-1-2

Nos últimos anos, foi observado um aumento significativo no número de casos nos EUA e no Reino Unido, em parte por causa da junk food (alimentos com alto teor calórico, mas com níveis reduzidos de nutrientes), que causa obesidade e diabetes. Em outros países também houve um aumento acentuado no número de casos. O envelhecimento da população nos países industrializados também explica o aumento da prevalência desta doença.
Outros fatores podem explicar este aumento de casos, como tomar medicamentos anti-hipertensivos (estes podem promover a gota através do aumento do ácido úrico).

AlopurinolA elevação do ácido úrico no sangue pode se dar por conta de defeitos genéticos que levam a um aumento em sua produção. Outro motivo que o mantém elevado no sangue é a incapacidade dos rins em excretar a substância. Outros fatores como dieta rica em carnes e frutos do mar, ingestão abusiva de álcool e o consumo de alguns medicamentos, podem elevar os níveis de ácido úrico e desencadear a artrite gotosa.
Quando não tratada, a gota pode se complicar causando cálculos renais e deposições de cristais de ureato de cálcio sob a pele.

Para fazer um diagnóstico preciso, o médico deve fazer uma punção na articulação. A presença de cristais de ácido úrico confirma a presença da gota.

Trata-se frequentemente de uma doença crônica. Quando uma pessoa para de tomar a medicação e/ou para de manter uma dieta adequada (sem álcool, sem carne, por exemplo), verá muitas vezes as crises de gota reaparecerem .

O tratamento pode ser curativo para as crises de gota, com medicamentos como antiinflamatórios e colchicina, ou preventivo, com o uso de alopurinol.

Para o paciente que já sofre de gota ou tenha propensão a desenvolver a doença, algumas dicas podem ajudar a prevenir, como reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas, maneirar no consumo de carnes, ingerir bastante líquido e controlar o peso.

3 boas dicas para gerenciar adeequadamente a gota
1.
Ter uma dieta e um estilo de vida saudável (praticar exercícios, dieta equilibrada, etc.)
2. Coma alimentos que são saudáveis para você e baixos em purinas (ver também Boas dicas abaixo).
3. Tome seus medicamentos.
Fontes: American College of Rheumatology de 2015

Ler também: Entrevista com um professor sobre gota, uma doença muito dolorosa

Definição

A gota é uma doença reumatológica, inflamatória e metabólica que atinge uma ou mais articulações. Trata-se de um tipo de artrite. É importante observar que a gota inicia quase sempre atingindo extremidades articulares, como dedos dos pés, joelhos, cotovelos ou tornozelo.

A gota é provocada por um depósito de ácido úrico na região articular, que formam cristais, ocasionando muita dor (uma das piores dores, segundo alguns pacientes).

A gota é uma doença que evolui por incidências, falamos então de crise de gota quando a dor se torna muito intensa.

Nota-se por fim, que é importante tratar bem a gota, através de medicamentos e/ou mudanças no estilo de vida, pois complicações renais como deformações articulares podem ocorrer se a doença não for bem tratada. Somente um médico poderá prescrever os medicamentos adequados (não se automedique!).

Pessoas famosas como Isaac Newton e Leonardo da Vinci sofriam de gota.

A gota também já foi chamada de doença dos reis, porque na época a realeza fazia festas ricas em carnes e álcool, dois importantes fatores de risco para a gota. Sabemos que o rei Henrique VIII da Inglaterra sofreu com esta doença.

A gota é uma doença conhecida há cerca de 4000 anos.

Gout-Print-2011-Consolation-in-the-Gout-copyright-Rheumatology-Research-Foundation

Foto: Consolation in the Gout – Rheumatology Research Foundation – Atlanta, EUA.

Publicidade

Epidemiologia

– A gota afeta principalmente os homens (20 vezes mais do que as mulheres, em 95% dos casos) a partir dos cinquenta anos.

Outro estudo mostrou que 6 pacientes (homens) e 1 paciente (mulher) em 1000 pacientes da medicina geral do Reino Unido, sofrem de gota. Neste caso, a relação homem-mulhere não é 20, mas 6.

Sobre o mesmo assunto, um estudo publicado em janeiro de 2014, ainda no Reino Unido, mostrou que a relação homem-mulher foi de 4 homens para 1 mulher.

– Estima-se que 1% dos homens com mais de 40 anos sofrem de gota. Quando as mulheres são afetadas, isto ocorre principalmente após a menopausa.

– A primeira crise de gota ocorre frequentemente em homens entre 20 e 40 anos.

– Em crianças, a doença é rara, mas quando ocorre nessa faixa etária é frequentemente associada a problemas metabólicos bem definidos.

– No Brasil, a incidência é de 0,2 a 0,35 por 100 habitantes (fonte: Revista Brasileira de Reumatologia).

Nova york quer proibir refrigerantes acima de 500 mlEstados Unidos
– Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 4% dos adultos americanos (fonte: American College of Rheumatology) sofrem de gota. Este número tem aumentado fortemente (cerca de o dobro de 1994, ano de referência 2014), mas desde 2015-2016 observamos uma estabilização do número de casos. Na verdade, de acordo com dados de 5.467 adultos nos Estados Unidos sob o National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) para os anos de 2007-2016, os pesquisadores descobriram que a prevalência de gota e de hiperuricemia permaneceu em 3,9%, duplicando entre os anos de 1960 e 1990, ou aproximadamente 9,2 milhões de adultos com gota em 2015-2016. Nos EUA, metade das pessoas afetadas por gota sofre 3 crises de gota ou mais por ano. Uma crise de gota dura em média 4 dias.

Epidemiologia da hiperuricemia
Estima-se que, na população em geral, até 20% das pessoas sofram de hiperuricemia, segundo um artigo publicado em novembro de 2017 no jornal interno do Congresso da ACR em San Diego (EUA). Para comparação, cerca de 4% da população americana sofre de gota. Isso significa que a maioria das pessoas com hiperuricemia não desenvolverá gota.

– Na França, cerca de 600.000 pessoas sofrem de gota (Fonte: Autoridade Nacional de Saúde, em abril de 2014).

– No Reino Unido, 3,2% dos adultos sofrem de gota, de acordo com um estudo publicado na revista científica BMJ em 2017. Este número foi superior às décadas anteriores, de acordo com a BMJ.
Neste país, estima-se que uma em cada 40 pessoas sofre de gota (Fonte: Annals of the Rheumatic Disease Journal).

No mundo
Como a gota está associada em grande parte ao estilo de vida, observa-se que a globalização e a junk food estão relacionadas com o aumento no número de casos de gota mundialmente. Em todo caso, esta é uma hipótese frequentemente citada.

Causas

A gota é causada pelos níveis elevados de ácido úrico no sangue (hiperuricemia) situado acima de 6,8 mg/dL, isto é, acima do ponto de solubilização de ácido úrico. Ou seja, acima de 6,8 mg/dL, cristais de urato podem se formar e, em seguida, ser depositados nas articulações, como o dedão do pé.

Nos EUA, os especialistas em gota recomendam uma taxa de ácido úrico abaixo de 6 mg/dL. Em pacientes com gota, esta taxa deve ser menor que 5 mg/dL para evitar ataques futuros.

Quanto mais a concentração de ácido úrico no sangue diminui, (por exemplo, abaixo de 5 mg/dL ou menos), maior é a sua solubilização no sangue. Em geral, o ácido úrico se dissolve no sangue sem formar cristais e então passa pelos rins e é eliminado através da urina.

Os cristais de ácido úrico provocam inflamação dos tecidos. Em seguida, há produção de moléculas presentes no processo inflamatório, tais como as interleucinas. Fisiologicamente, a inflamação não está diretamente relacionada aos cristais de ácido úrico, mas às células imunológicas que atacam esses cristais de ácido úrico, que são considerados pelas células do sistema imunológico como corpos estranhos.

Publicidade

Muitas pessoas têm níveis elevados de ácido úrico no sangue, mas não desenvolvem a gota. Os níveis elevados de ácido úrico no sangue são uma condição necessária, mas não suficiente para provocar os ataques. Não está claro por que algumas pessoas desenvolvem a doença e outras não. Muitas pessoas que sofrem de gota tiveram, por anos, níveis elevados de ácido úrico antes de apresentarem seu primeiro ataque.

Formação do ácido úrico

A origem do ácido úrico é múltipla. Esta molécula pode surgir em especial a partir de resíduos formados pela quebra de purinas a nível celular:

DNA (a partir de uma célula morta, carne, após o tratamento de câncer, etc) > Purinas > ácido úrico > de cristais de ácido úrico nas articulações (gota).

Para saber mais sobre as causas do aumento do ácido úrico

Em 80 a 90% dos casos de gota, a origem é a má excreção de ácido úrico pelos rins, e não uma super ingestão. Nos rins, o ácido úrico é então reabsorvido pela corrente sanguínea, levando à hiperuricemia (excesso de ácido úrico).

A gota pode ser primária ou secundária.

Gota primária:
Esta forma de gota não está bem definida, estima-se que factores genéticos influenciam os níveis elevados de ácido úrico no sangue. A gota primária é também conhecida como  gota idiopática.

Gota secundária:
Nesta forma, vários factores podem aumentar os níveis de ácido úrico no sangue, pode ser devido a:

– Uma dieta rica em carne, álcool, etc.

Tomate e gota
Um estudo da Universidade de Nova Zelândia, na cidade de Otago, mostrou que comer tomate pode promover a gota, como apontado pelos cientistas que observaram uma forte correlação entre o consumo de tomate e esta doença reumatológica. De acordo com os pesquisadores, comer tomates aumenta a taxa de ácido úrico no sangue. Este estudo particular que envolveu mais de 2.000 neozelandeses que sofriam de gota foi publicado na revista BMC Musculoskeletal Disorders, em agosto de 2015. Os participantes tiveram de responder a forma sobre como os ataques de gota eram desencadeados, e 71% relataram ter um ou mais alimentos provocando a gota. O tomate foi listado como um fator desencadeante em 20% desses alimentos. Outros alimentos citados foram álcool, marisco, carne vermelha e bebidas açucaradas (por exemplo, refrigerantes).

Gota: baixa influência da alimentação
A alimentação pode ser menos importante do que se pensava em relação à causa da gota. Um estudo publicado 10 de outubro de 2018 na revista científica BMJ (DOI: 10.1136 / bmj.k3951), que utilizou analises ​​por meio de questionários alimentares, análise genética e os níveis de ácido úrico de mais de 16.000 pessoas nos Estados Unidos. Os pesquisadores descobriram que as escolhas alimentares representaram menos de 0,5% da variação do ácido úrico, enquanto os fatores genéticos representaram cerca de 24%. Como a gota é causada por altos níveis de ácido úrico, este estudo sugere que a genética é muito mais importante do que a alimentação quando se trata do risco de gota.

– Uma doença hemolítica (anemia)

– Tumores

– Uma insuficiência renal

– A obesidade ou excesso de peso, a obesidade aumenta por um fator de 2 a 3  o risco de gota.

A obesidade e o risco de gota – cirurgia bariátrica
Segundo um estudo sueco da Universidade de Gotemburgo, pessoas obesas que realizaram cirurgia bariátrica viram seu fator de risco de sofrer de gota diminuir 34% durante o acompanhamento dos participantes deste estudo que durou 26 anos. Este estudo foi publicado em outubro de 2016 na revista especializada Annals of the Rheumatic Diseases.

– Utilização de certos medicamentos: aspirina (mesmo em baixa dosagem, por exemplo, 100 mg, usada na prevenção de doenças cardiovasculares), diuréticos como hidroclorotiazida, anti-hipertensivos, alguns fármacos citotóxicos utilizados no caso das doenças malignas hematológicas, imunossupressores como a ciclosporina ou tacrolimus.

Publicidade

– Pesquisas recentes também têm mostrado que o consumo excessivo de refrigerantes e sucos industrializados adoçados aumentam a probabilidade do desenvolvimento da gota, inclusive em mulheres. Isso pode ser devido ao aumento da resistência à insulina e acumulo de gordura na região abdominal. A tomada de determinados medicamentos (aspirina, diuréticos) pode também favorecer o aparecimento da gota.

Diabetes: Sabe-se que altos níveis de insulina no sangue podem levar a níveis elevados de ácido úrico, sendo essa a ligação entre diabetes e gota.

– Linfoma

Hipertensão

– O excesso de colesterol

– A apneia do sono, uma pessoa que sofre de apneia do sono apresenta um risco 20% maior de sofrer de gota.

– Hospitalização, incluindo internação prolongada.
De fato, o risco de sofrer uma crise de gota durante a hospitalização aumenta em um fator de 10 e uma longa permanência no hospital tem sido associada diretamente a um aumento nas crises de gota, de acordo com um estudo americano publicado em Journal of Rheumatology (DOI: 10,3899 / jrheum.171320) em 1 de Julho de 2018. Participou deste estudo um total de 429 pessoas com uma incidência de gota. O estudo utilizou um banco de dados médico (Rochester Epidemiology Projeto) no condado de Olmsted, Minnesota. Segundo os autores do estudo, a hospitalização está fortemente associada às crises de gota em pacientes com gota pré-existente. Os autores do estudo observam, no entanto, que sua pesquisa pode ter sido limitada pela natureza retrospectiva deste trabalho. De fato, a incidência de gota pode não ter sido considerada em todos os casos porque as crises extra-hospitalares foram baseadas no autorrelato do paciente.

Fisiopatologia da gota (inflamassoma)
Os estudos sobre a fisiopatologia da crise de gota revelou que os cristais de urato monossódico (MSU Inglês) ou simplesmente cristais de ácido úrico, a forma cristalina do ácido úrico, são reconhecidos pelas células imunes como um sinal de perigo. Essas células podem iniciar uma resposta inflamatória, orquestrada pelo receptor de reconhecimento de padrões (pattern em inglês) intracelular chamado NLRP3. Em caso de exposição dos cristais de ácido úrico (MSU), o NLRP3 forma um complexo proteico chamado inflamassoma. Segue-se então a ativação da proteína caspase 1. Esta proteína, em seguida, cliva as citocinas altamente pró-inflamatórias, tais como a interleucina (IL) -1β e IL-18, que conduz à secreção de suas formas biologicamente ativas e provoca uma crise de gota.

Sintomas

AlopurinolA gota, na sua fase aguda, é caracterizada pela famosa crise, com os seguintes sintomas:
– A gota geralmente afeta as articulações, na maior parte do tempo (em cerca de 70% a 75% dos casos) a articulação da base do dedão do pé é frequentemente a única articulação atingida pela gota.
Na gota, os cristais de ácido úrico são depositados principalmente na articulação da base do dedo grande do pé. Normalmente apenas uma articulação é afetada.
Em 90% dos pacientes com gota, a base conjunta do dedão do pé será afetada pelo menos uma vez.

Por que é que a articulação do dedão do pé é a mais afetada?
N2320/doencas/gotaVárias hipóteses têm sido expostas. Primeiro, o pH nesta região do corpo é mais ácido do que em outras regiões. Sabe-se que o ambiente ácido diminui o ponto de solubilização de ácido úrico, o que aumenta a probabilidade de formação de cristais de ácido úrico. Em segundo lugar, devido ao estado da articulação em uma extremidade do corpo, a temperatura é mais fria do que noutras áreas, e assim como a acidez, o frio reduz a taxa de solubilidade do ácido úrico. Em terceiro lugar, alguns especialistas acreditam que a pressão durante a marcha promove a formação de cristais.
A gota também pode chegar noutras articulações, como o pé, joelho, dedos da mão, cotovelo, etc. Outras regiões também podem ser afetadas como as orelhas (conhecidos neste caso por tofos) ou os rins.
Em geral, as articulações dos membros inferiores são mais afetadas pela gota do que as dos membros superiores, principalmente porque elas suportam mais peso.

Publicidade

– A crise de gota é extremamente dolorosa e ocorre de repente. A dor é tão insuportável que muitas vezes é impossível colocar o pé no chão ou até mesmo colocar um sapato, um casaco ou um cobertor ao dormir. A dor é tão forte que a gota pode acordá-lo à noite. A origem da dor vem de milhares de cristais de ácido úrico que agem como cacos de vidro no interior das articulações.

Duração de uma crise de gota
Esta crise muitas vezes ocorre durante a noite, períodos em que há mais frio, o que favorece a cristalização de ácido úrico (causa de gota). Em dezembro de 2014, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Boston (EUA) descobriram em um estudo clínico de mais de 700 pessoas, que os pacientes com gota tiveram 2,4 vezes mais risco de sofrer uma crise de noite entre meia-noite e 8h da manhã do que durante as 8h e 16h.
Em geral, a crise começa com uma pequena dor e pequenos incômodos, mas após algumas horas a articulação fica completamente inflamada.
Uma crise de gota pode durar vários dias, com frequência de 3 a 7 dias (algumas fontes falam em crises de 3 a 10 dias). Nos Estados Unidos, a média de duração de uma crise de gota é de 4 dias.
Mesmo sem tratamento, a crise é reabsorvida em poucos dias, muitas vezes em menos de uma semana. A dor nas articulações é geralmente mais forte nas primeiras 12 horas após o aparecimento da crise da gota.

– A articulação afetada pela gota apresenta os sinais clássicos de uma inflamação pele avermelhada, dolorosa, quente e inchada. As articulações podem ficar tão inchadas einflamadas que o paciente sente febre e calafrios.

– As crises de gota podem ocorrem uma só vez ou se repetir várias vezes (falamos então de gota crônica), por exemplo, por vários meses ou anos após a primeira crise de gota.

Diagnóstico

O médico se utiliza dos sinais e sintomas da gota para fazer o diagnóstico do paciente.

O médico pode fazer uma punção do líquido da articulação afetada, a presença de microcristais de ácido úrico confirma a gota. A análise desses cristais é feita no microscópio no consultório médico. Alguns especialistas acreditam que esta análise dos cristais sob o microscópio é a única maneira de estabelecer um diagnóstico correto da gota.

O especialista pode pedir exames de sangue para verificar os níveis de ácido úrico no plasma do paciente. Entretanto, o teste de sangue sozinho não é preciso, uma vez que há pacientes com níveis elevados de ácido úrico no sangue que nunca desenvolveram a doença e pacientes com sintomas de gota mesmo com níveis normais de ácido úrico.

O médico pode também realizar um raio-X, em especial para excluir outros diagnósticos, tais como pseudogota (também chamado condrocalcinose articular), causada pela deposição de pirofosfato de cálcio nas articulações.

Radiografias da articulação também podem ser úteis na gota crônica a fim de encontrar quaisquer problemas ósseos ou articulares, como os tofos gotosos. Leia também complicações gota.

Na gota crônica, o médico também pode verificar a função renal, para identificar uma possível insuficiência renal.

Novos critérios de diagnóstico da gota

Em setembro de 2015, a associação dos reumatologistas americanos, a Associação Americana de Reumatologia (ACR) e o EULAR, o equivalente europeu, publicaram novos critérios para o diagnóstico de gota de acordo com sintomas específicos, com diferentes parâmetros.

Os principais critérios para o diagnóstico da gota são:

– O critério de entrada necessário, nessa nova classificação, é que o paciente tenha experimentado pelo menos um episódio de inchaço, sensibilidade ou dor em uma articulação periférica ou uma bolsa sinovial com dor.

Publicidade

– A presença de cristais de urato de sódio em uma articulação ou bolsa sinovial, e também a presença de um tophus (cristal de ácido úrico) são critérios suficientes para caracterizar a gota.

– Se o médico não encontrar cristais de urato de sódio, ele deverá continuar o questionário, inclusive sobre outras questões clínicas.

Todos esses critérios e sistema de seleção podem ser vistos on-line no site em Inglês.

Acetilas de glicoproteínas (estudo)
Um estudo publicado em setembro de 2023 (DOI: 10.1002/art.42523) mostrou que altos níveis de acetilas de glicoproteínas (em inglês: glycoprotein acetyls) – um conhecido marcador de inflamação – estavam presentes em amostras de sangue de pessoas nos meses ou anos anteriores às primeiras crises de gota. As pessoas com níveis mais baixos de acetilas de glicoproteínas desenvolveram gota com menos frequência. Os níveis elevados de acetilas de glicoproteína também previram quais participantes do estudo tiveram crises recorrentes de gota1.

Complicações

A gota, se não tratada corretamente, pode levar a complicações como:

– Crises recorrentes de artrite gotosa.

Cálculos renais. De acordo com um estudo sueco publicado em julho de 2017, os pacientes que sofrem de gota (homens e mulheres) são 60% mais propensos a sofrer cálculos renais do que a população em geral. Este estudo foi publicado em 24 de julho de 2017 no periódico científico Arthritis Research & Therapy.

– Complicações renais como a insuficiência renal (neste caso, a perda da função renal é frequentemente irreversível), Estima-se que pessoas que sofrem de gota possuem 4 vezes mais risco de morrerem de problemas renais.

– Deformações articulares (caso mais incomum nos dias de hoje, devido ao tratamento preventivo à base de alopurinol) devido ao acúmulo de cristais de ureato.

– Depósitos de cristais de uretato de cálcio são chamados de tofos gotosos, que são uma massa sólida (nódulo) branca. A formação dos tofos gotosos vem do acúmulo de cristais de ácido úrico no sangue, estes nódulos acumulam-se perto da articulação afetada, como o dedão do pé, os cotovelos, o pavilhão auriculara, etc.
Como pode ser visto, o tofo gotoso pode ser depositado nos tecidos moles formando uma saliência, por exemplo, na orelha, e não necessariamente só nas articulações.
Uma operação geralmente pode remover estes tofos gotosos.
Isso parece, no entanto, exclusivo para casos avançados, geralmente reduzindo o ácido úrico, se reduz esses nódulos. Os tofos podem potencialmente destruir as articulações.
Note que muitas vezes leva vários anos de tratamento para remover os tofos.

– Aumento do risco de infarto do miocárdio e AVC. Um estudo publicado em setembro de 2013 na revista britânica Rheumatology, demonstrou que os pacientes com gota eram 2 vezes mais propensos a sofrer um infarto do miocárdio e AVC do que aqueles que não sofrem de gota.

Outro estudo britânico publicado no final de agosto de 2014 mostrou que a gota aumenta o risco de doença cardiovascular, este estudo mostrou que as mulheres estão particularmente em risco.

– Um estudo divulgado em junho de 2014, no Congresso EULAR (European League Against Rheumatism – Liga Européia Contra o Reumatismo em português), que foi realizado em Paris, mostrou que os homens com gota sofrem mais com a disfunção erétil. Outro estudo apresentado no congresso EULAR de 2017 em Madrid mostrou que a gota está associada com um aumento de 29% no risco de disfunção erétil em pacientes que tomam medicamentos para tratá-la. Este último estudo foi realizado pela Rutgers Robert Wood Johnson Medical School, em New Brunswick de New Jersey (Estados Unidos).

Tratamentos

Para tratar a gota podemos distinguir dois tipos de tratamento: o tratamento da crise de gota (1) e o tratamento que previne crises futuras (2):

Publicidade

1. Tratamentos da crise de gota – medicamentos para a crise de gota

Para acalmar a dolorosa crise de gota, o médico dispõe principalmente de medicamentos analgésicos ou antiinflamatórios como:

antiinflamatórios não-esteróidais (AINEs) como aqueles à base de diclofenaco, naproxeno e ibuprofreno a serem tomados, por exemplo, em forma de comprimidos. Evite a tomada de aspirina no tratamento da gota, pois ela pode exercer influência sobre o ácido úrico e agravar os sintomas da gota. Alguns AINEs com um efeito poderoso como o celecoxib ou indometacina muitas vezes também são prescritos pelos médicos.

– a colchicina (um antigotoso), que age contra a inflamação causada pelos cristais de ácido úrico. Entretanto, esse medicamento deve ser cuidadosamente avaliado devido a suas reações adversas, como náuseas, vômitos e diarréias.

Na França, a revisão independente de referência conhecida por sua independência, Prescrire escreveu em janeiro de 2021 que, em pacientes que sofrem de crise de gota, a colchicina (nome comercial: Colchicine Opocalcium®) não alivia a dor melhor do que um antiinflamatório não esteroidal como o naproxeno (nome comercial: Naprosyne® ou genéricos). Considerando o risco de overdose fatal associado à colchicina, este deve ser o último recurso a ser escolhido, ainda segundo Prescrire2.

corticosteróides, como a prednisona e cortisona podem ser usados devido a sua ação antiinflamatória. Podem ser administrados na forma de comprimidos ou em injeções nas articulações. Os corticosteróides normalmente são destinados a pessoas que não podem utilizar AINEs.
A prednisolona, um corticoide sintético, também é frequentemente utilizada em casos de crise de gota. Um estudo de pesquisadores de Hong Kong foi publicado em fevereiro de 2016 na revista especializada Annals of Internal Medicine, mostrara que este medicamento é seguro (não leva a efeitos secundários graves), eficaz e pode se dizer que possui o mesmo efeito analgésico que a indometacina, um fármaco anti-inflamatório não esteroidal (AINE), em caso de gota.

– o canacinumab, um anticorpo dirigido contra a interleucina, utilizado em alguns pacientes. É prescrito quando outros medicamentos, como os AINEs e a colchicina são ineficazes ou contraindicados.

Comparação entre tomar AINEs e corticosteróides
Uma revisão de estudos envolvendo 6 estudos e 817 pacientes concluiu que entre os pacientes com gota, não houve diferença significativa entre tomar corticosteroides (ex. prednisona) e anti-inflamatórios não-esteroidais – AINEs (ex. ibuprofeno) para dores de curto, médio e longo prazo, na duração do bloqueio da dor ou na necessidade de tomar outros analgésicos. Embora não tenha havido diferença entre os corticosteróides e os AINEs em termos do desfecho primário, em matéria de segurança, como por exemplo, em relação à taxa de sangramento gastrointestinal, a incidência de eventos adversos gastrointestinais foi menor no grupo com corticosteróide. As análises de subgrupos não mostraram diferenças nas doses ou vias de administração (prednisolona oral, betametasona intramuscular e triancinolona) para corticosteróides. Uma análise semelhante não foi realizada para os vários AINEs. Este estudo mostra que os corticosteróides podem ser uma alternativa eficaz aos AINEs na dor aguda da gota. Este estudo foi publicado em 23 de março de 2018 na revista científica Annals of Emergency Medicine (DOI: 10.1016/j.annemerged.2018.02.004).

– O anakinra (Kineret). O anakinra, um inibidor da interleucina 1 (IL-1), pode ser utilizado principalmente nos Estados Unidos durante os ataques de gota se o paciente não puder receber outros tratamentos ou se outros tratamentos se mostrarem ineficazes. Este medicamento é normalmente reservado para pacientes hospitalizados com várias comorbidades (doenças concomitantes)3. Anakinra também é indicado para artrite reumatoide.

2. Tratamentos preventivos da crise de gota

De início é aconselhado seguir determinados conselhos como uma mudança no estilo de vida (diminuição do álcool, consumo de carnes, etc), para tratar a gota e limitar as futuras crises. Se a mudança do estilo de vida não surtir efeito, existe a possibilidade de o médico prescrever um medicamento muito eficaz para evitar e limitar novas crises de gota, o alopurinol. Outros medicamentos também podem ajudar a prevenir a crise de gota (veja abaixo).

Publicidade

– Em geral, o médico irá iniciar um tratamento medicamentoso preventivo à base de alopurinol somente se o paciente já tiver passado por diversas crises de gota. É importante saber também que este medicamento diminui a concentração de ácido úrico no sangue, o que reduz a probabilidade de ter uma crise de gota, mas será necessário tomá-lo regularmente, pois uma vez a interrompida a terapia, a probabilidade de uma crise pode aumentar. Trata-se então de um tratamento a ser tomado em um longo prazo.
Vale a pena notar que numerosas pessoas que se tratam com alopurinol por um ano e, em seguida, por exemplo, no segundo ano ou pelo menos algum tempo após, param a administração. Isso é perigoso porque provoca risco à saúde do paciente (gota, complicações renais, etc). Essas terão que tomar o medicamento todos os dias e o  médico ou farmacêutico podem ajudá-las a atingir esse objetivo.

– Outro medicamento que também bloqueia a produção de ácido úrico é o febuxostato. Tanto o alopurinol quanto o febuxostato podem desencadear uma nova crise de gota se tomados antes que uma crise recente seja totalmente curada.

Estudo clínico sobre febuxostato:
De acordo com um estudo publicado em 2017, febuxostato permitiu a redução de crises de gota em um estudo clínico duplo-cego com controle placebo realizado em 314 adultos com gota. O Febuxostato também reduziu a sinovite, uma inflamação do revestimento de uma articulação saudável, ao longo de um período de 2 anos em comparação com o placebo. A dosagem de febuxostato usada por dia era de 40 ou 80 mg. Este estudo foi publicado em 4 de outubro de 2017 na revista científica Arthritis & Rheumatology (DOI: 10.1002 / art.40233).

Em fevereiro de 2019, a FDA (agência americana de controle de medicamentos) comunicou que o febuxostato apresentava um risco maior de morte do que o alopurinol. Após um extenso estudo de segurança sobre o febuxostato (nos Estados Unidos, vendido como Uloric) em um estudo clínico, constatou-se que o febuxostato estava associado a um risco aumentado de morte por doença cardíaca e outras causas de morte. Portanto, o FDA decidiu colocar um aviso na bula do medicamento. A FDA recomenda o uso de febuxostato somente se os pacientes tiverem baixa eficácia com alopurinol ou efeitos colaterais graves com alopurinol.

– A probenecida é um medicamento que aumenta a habilidade renal de excretar o ácido úrico. Desta forma, as concentrações de ácido úrico no sangue diminuem o que reduz o risco de desenvolvimento de gota.

– O lesinurad (200 mg) e o alopurinol (300 mg ou 200 mg) – medicamento composto, associação  medicamentosa, vendido nos EUA em 2017 sob o nome comercial Duzallo®, segundo o comunicado de imprensa do laboratório que comercializa este medicamento (Ironwood Pharmaceuticals). O Duzallo® foi aprovado pela agência reguladora de medicamentos nos Estados Unidos, a FDA em agosto de 2017, cerca de um ano depois (Agosto de 2018), a Agência Europeia de Medicamentos EMA deu um parecer positivo sobre a sua comercialização no mercado europeu. Este medicamento é indicado para pacientes com gota descontrolada, ou seja, aqueles que não respondem bem a medicamentos como o alopurinol em dose simples. O medicamento tem a forma farmacêutica de um comprimido (tablet em inglês). Ele é particularmente contraindicado para pessoas que sofrem de insuficiência renal aguda (nos Estados Unidos, o medicamento tem uma advertência em sua caixa sobre esta doença, de acordo com um comunicado de imprensa de agosto de 2017). Como foi observado no site suíço Pharmavista.net que se baseia no Jornal alemão Pharmazeutische Zeitung, o lesinurad previne a reabsorção de ácido úrico pelos rins através da inibição do transportador URAT1 e do transportador anionico OAT4, o que resulta em um aumento na excreção de ácido úrico e diminuição do ácido úrico sérico. De acordo com o site Pharmavista.net, os efeitos adversos mais comuns do Duzallo® são sintomas semelhantes aos da gripe, refluxo gastroesofágicos, cefaleia e elevações da creatinina sérica.

Publicidade

– A benzobromarona. Em alguns países, como a França e o Brasil, a benzobromarona é usada para a prevenção da gota em monoterapia ou em combinação (por exemplo, com alopurinol). A benzobromarona é um agente uricosúrico que atua como inibidor não competitivo da xantina oxidase. Em alguns países, como o Brasil, a molécula é pouco utilizada. Em geral, a benzobromarona não é usada como tratamento de primeira linha. Em geral, o alopurinol é usado preferencialmente.. A benzobromarona, por vezes, tem um efeito colateral de toxicidade hepática. Os médicos geralmente prescrevem benzobromarona quando a taxa de filtração glomerular está normal e sem coágulos urinários, como uma alternativa ao alopurinol se o paciente apresentar, por exemplo, efeitos colaterais causados pelo alopurinol.

Um estudo publicado em 7 de julho de 2022 na Arthritis & Rheumatology (DOI : 10.1002/art.42266) revela que baixas doses de benzbromarona pode ser uma opção melhor do que outros medicamentos utilizados para combater a gota, como o febuxostat. Neste estudo prospectivo, aberto, de centro único, 196 homens com gota e baixa excreção urinária de ácido úrico foram randomizados para receber benzbromarona em baixa dose ou febuxostat em baixa dose por 12 semanas. Os participantes do grupo benzbromarona foram mais propensos a atingir o objetivo de ácido úrico sanguíneo <6 mg/dL do que aqueles do grupo febuxostat (61% versus 32%). Os efeitos colaterais não diferiram significativamente entre os grupos.

Nota sobre os tratamentos da gota:
– Estima-se que uma grande parte das pessoas com gota, 80% dos pacientes de acordo com algumas fontes, não toma corretamente seus medicamentos para tratar e prevenir crises de gota ou não se beneficia do tratamento adequado. Isso é muitas vezes um sério problema de saúde pública, particularmente no Ocidente (Europa e América do Norte).
– De acordo com o American College of Rheumatology (Sociedade Americana de Reumatologia), o tratamento preventivo contra a gota pode funcionar em um paciente e não em outro. Portanto, a terapia deve ser individualizada para cada paciente. O médico irá decidir quando iniciar esse tratamento e com qual medicamento. A escolha do tratamento depende também da função renal, e outros problemas de saúde.
– O objetivo dos tratamentos preventivos para gota é atingir uma concentração de ácido úrico no sangue menor ou igual a 6 mg/dL (360 μmol/L). Essas metas de tratamento são recomendadas pela Associação Americana de Reumatologistas (AAR) e pela Associação Europeia (EULAR).

Prevenção

Para prevenir o aparecimento de novas crises de gota, pode ser bastante útil mudar o seu estilo de vida e seguir determinados conselhos como:

Alimentação para gota

– Limite o seu consumo de carne (a carne é rica em purinas, que se transformam em ácido úrico, molécula responsável pela gota). Outros alimentos ricos em purinas são feijão, grão-de-bico e frutos do mar com casca (camarões, lagostas, mariscos). Sendo assim, procure fazer uma dieta rica em frutas e lacticínios, e pobre em alimentos ricos em purinas como a carne, os leguminosos, etc.

Um estudo mostrou que as purinas de origem animal (frutos do mar, carne) foram associadas com um risco muito maior de desenvolvimento de gota do que as purinas presentes em plantas (leguminosas como feijões, lentilhas).

Um estudo publicado em agosto 2016 na revista especializada Arthritis & Rheumatology mostrou que uma dieta utilizada para combater a hipertensão arterial, a dieta DASH (em Inglês: Dietary Approaches To Stop Hypertension), pode reduzir a taxa de ácido úrico no sangue, em média, em 0,35 mg/dL. Em indivíduos com taxa de ácido úrico acima de 7 mg/dL, a taxa mais frequente em pacientes com gota, a dieta DASH pode levar a uma diminuição de mais de 1 mg/dL. A dieta DASH é particularmente rica em frutas, legumes e grãos.

Publicidade

Peixes oleosos, como salmão, ricos em ômega-3, não são recomendados. Dê preferência a peixes magros. Quando se trata de carne, escolha carnes magras, como frango ou cordeiro.

Ler: Alimentos para a gota

Crise de gota, entrevista com o médico Dr. Alexander Dumusc

– Limite ou evite o consumo de álcool. Estudos recentes têm demonstrado que o consumo de cerveja aumenta as chances de desenvolvimento de gota, sobretudo em homens. Além disso, o álcool reduz a excreção de ácido úrico.

– Beba bastante líquido (de 2 a 3 litros de água por dia), em particular em caso de crise de gota. Evite beber sucos ou refrigerantes adoçados, especialmente os que usam xarope de frutose ou xarope de milho. Não hesite em beber 500 ml de água na parte da manhã, imediatamente após acordar. A desidratação é uma das causas de gota.

– Controle o seu peso, pois o sobrepeso favorece a gota.

– Reduza o consumo de bebidas açucaradas, como refrigerantes ou sucos industrializados, estudos recentes (2010 e 2013) demonstraram uma influência negativa sobre a gota. frutose, frequentemente encontrada em bebidas açucaradas, aumenta o risco de gota, como mostra um estudo realizado pela Escola de Medicina da Universidade de Boston.

Uma variante genética (chamada SLC2A9) em algumas pessoas explicaria a influência de bebidas açucaradas em relação à gota. De fato, de acordo com um estudo da Nova Zelândia publicado em 2013, em indivíduos com essa variante genética, tomar bebidas açucaradas aumenta a concentração de ácido úrico no sangue, o que ajuda a ter uma crise de gota.

– Pratique exercícios físicos. Além de ajudar no controle do peso, previne desordens metabólicas que estão associadas com o aparecimento da gota.

– A ingestão de vitamina C pode reduzir os níveis de ácido úrico no sangue. Entretanto, a dose deve ser estabelecida por um médico, uma vez que superdoses podem elevar a quantidade de ácido úrico no sangue.

– Se você é obeso, realizar uma cirurgia bariátrica pode reduzir em até 34% o risco de sofrer de gota (mais informações sobre este estudo com sua referência em Causas, e parágrafo em Obesidade).

– No caso de jejum (por exemplo, quaresma, ramadan, dieta), é importante, se possível, continuar a beber água durante o dia e a noite, porque a desidratação aumenta o risco de gota. O ácido úrico é eliminado principalmente pelos rins, por isso, beber água favorece a sua eliminação.

Dicas

– Durante as crises de gota, evite forçar as articulações com pesos ou movimentos. Qualquer pressão pode aumentar a dor. Por vezes é necessário imobilizar a articulação para evitar a dor.
Evite excesso com os pés, não jogue futebol, pois há o acúmulo de cristais de ácido úrico nas articulações, e em caso de choque, faz com que a dor se amplifique.

– Beber café. Estudos mostraram uma associação entre ingestão de café (normal ou descafeinado) e redução dos níveis de ácido úrico no sangue.
Beber 3 xícaras de café por dia foi associado a um menor risco de sofrer de gota, de acordo com um grande estudo (estudo de cobertura ou umbrella review em inglês) publicado em 22 de novembro de 2017 no jornal britânico The BMJ (DOI : 10.1136/bmj.j5024). Este estudo também mostrou que beber 3 ou 4 xícaras de café por dia reduziu o risco de mortalidade geral e de doenças cardíacas.

– Não aqueça ou esfrie o local da inflamação, pois isso pode aumentar a dor de gota. No entanto, alguns especialistas, como a Sociedade de Artrite do Canadá, acreditam que pode ser possível aquecer e esfriar a inflamação temporariamente para aliviar a dor. O NHS (National Health Service, do Reino Unido) recomenda não aquecer a articulação afetada pela gota.

Nos EUA, o American College of Rheumatology (ACR) recomenda, em caso de gota, descansar a articulação afetada aplicar compressas de gelo ou compressas frias para aliviar a dor e inflamação. Como as informações parecem um pouco contraditórias, pergunte ao seu médico para uma informação mais personalizada. Tente especialmente observar o que é melhor para você (nada aplicado, frio ou quente) para combater as dores.

– Beba bastante líquido (de 2 a 3 litros de água por dia), em particular em caso de crise de gota. Evite beber sucos ou refrigerantes adoçados, especialmente os que usam xarope de frutose ou xarope de milho. Não hesite em beber 500 ml de água na parte da manhã, imediatamente após acordar. A desidratação é uma das causas de gota.

– Coma menos de tomate. De acordo com um estudo publicado em 2015, os tomates poderiam promover a gota (leia em “Causas” para mais detalhes).

– Consuma fibras alimentares. Uma alta ingestão de fibras provenientes principalmente da alimentação pode surpreendentemente ajudar no tratamento da gota.
Pesquisadores demonstraram em um experimento com ratos que uma dieta com alto teor de fibras diminui a inflamação em casos de gota. A gota é uma doença inflamatória que, como já visto acima, é causada principalmente pela acumulação de cristais de urato de sódio. O efeito das fibras sobre o urato de sódio é indireto. De acordo com pesquisadores, as fibras favorecem a produção de pequenas cadeias de ácidos graxos (em inglês, short chain fatty acids ou SCFAs) a partir de microrganismos intestinais. O resultado positivo para a gota é que estes ácidos graxos levam a apoptose (morte) de neutrófilos e reduzem a inflamação no nível da articulação. Este estudo realizado pela Universidade Federal do Estado de Minas Gerais, no Brasil, foi publicado em janeiro de 2017 na versão impressa da revista especializada Journal of Leukocyte Biology. Como este estudo foi realizado em ratos, outros estudos são necessários para verificar se estes resultados são reproduzíveis em seres humanos.

Notícias

Entrevista com um professor sobre gota, uma doença muito dolorosa
Alimentos para a gota
Crise de gota, entrevista com o médico Dr. Alexander Dumusc
Junk food, gota e raquitismo em alta no Reino Unido

Recursos

Alopurinol

Fontes & Referências:
American College of Rheumatology (ACR), Fox News, CBSNews, Universidade de Lausanne, Arthritis & Rheumatology, Annals of Emergency Medicine (DOI: 10.1016/j.annemerged.2018.02.004), Mayo Clinic, BMJ, EULAR, Arthritis & Rheumatology (DOI : 10.1002/art.40233), Journal of Experimental Medicine (DOI: 10.1084/jem.20172222), Journal of Rheumatology (DOI : 10.3899/jrheum.171320), MedlinePlus, Pharmavista.net (site suíço de referência para medicamentos), Pharmazeutische Zeitung (27/2018/p24).

Redação:
Por Xavier Gruffat (farmacêutico)

Fotos: 
Adobe Stock/Pharmanetis GmbH

Atualização:
20.02.2024

Como traduzir para outro idioma?
– Inglês: Gout – Gouty arthritis
– Espanhol: gota (crisis de gota)
– Francês: goutte
– Italiano: gotta (crisi di gotta)
– Alemão: Gicht (Gichtanfall)

Bibliografia e referências científicas:

  1. Boletim mensal sobre saúde da Harvard Medical School, edição de dezembro de 2023
  2. News da Prescrire publicada em 1º de janeiro de 2021, disponível em 10 de janeiro de 2021 no link
  3. LYNNE S. PETERSON M.D., Mayo Clinic Guide to Arthritis, Managing joint pain for an active life, Rochester, Mayo Clinic Press, 2020.
Observação da redação: este artigo foi modificado em 20.02.2024

Publicidade