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Covid-19: Vacinação no Chile, uma situação matizada e não tão positiva para Coronavac

SÃO PAULO O Chile, um país de cerca de 18 milhões de habitantes, está vivendo uma situação paradoxal. Por um lado, é um dos países do mundo que mais vacinou sua população, juntamente com Israel, e por outro lado, a pandemia permanece em um nível muito alto nesta metade de abril de 2021, tanto em termos de novos casos como de mortes. Uma explicação poderia vir da eficácia bastante decepcionante de uma vacina contra a Covid-19 para evitar mortes, a vacina Coronavac (o mesmo que é usado no Brasil). De acordo com o principal jornal chileno El Mercurio (via emol.com), houve 132 novas mortes de Covid-19 em 24 horas no dia 17 de abril de 2021. No Chile, quase 40% da população total recebeu pelo menos uma dose da vacina, de acordo com o Our World in Data. O Chile vacina com duas vacinas, em grande parte com Coronavac – uma vacina inativada – e cerca de 10% com a vacina RNA da Pfizer/BioNTech. Desde o início da pandemia em 2020, o Chile já teve mais de 24.500 mortes de Covid-19. A variante P.1, também conhecida como a variante brasileira ou de Manaus, é responsável por quase 24% dos testes sequenciados no Chile na semana de 12 de abril de 2021.

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Vacina, liberação do governo chileno – apenas 80% – “confusão” no Brasil

A vacina chinesa Coronavac demonstrou 67% de eficácia na prevenção de casos sintomáticos de Covid-19 e 80% de eficácia na prevenção de mortes, de acordo com um novo estudo divulgado em 17 de abril de 2021 pelo governo chileno. Cuidado, esses resultados só foram observados 14 dias após a tomada da segunda dose. A vacina Coronavac vem da empresa chinesa Sinovac. O que é interessante e um pouco perturbador neste estudo governamental é que a eficácia na prevenção de mortes é de 80%. Mas, segundo o Wall Street Journal, a eficácia das vacinas na prevenção das mortes por Covid-19 é quase toda 100%. No Brasil, por exemplo, o Instituto Butantan ligado ao governo do Estado de São Paulo, que produz Coronavac na cidade de São Paulo com a empresa chinesa Sinovac, estimou em um pequeno ensaio clínico que a eficácia contra a morte foi simplesmente 100%, um número muito superior e simplesmente perfeito do que as conclusões do governo chileno. Ao contrário do estudo em tempo real realizado no Chile, o ensaio clínico brasileiro teve um seguimento curto. Temos, portanto, números contraditórios entre o Chile e o Brasil. É muito cedo para dizer, mas é possível que a eficácia em tempo real da vacina Coronavac contra a morte no Brasil também não seja 100%, mas infelizmente um pouco mais baixa. No Chile, as pesquisas continuarão a verificar se essa eficácia será mantida ou não ao longo do tempo. Entretanto, em 19 de abril de 2021, a revista Veja Saúde relatou que a eficácia da vacina Coronavac no Brasil contra morte e casos graves estava entre 83,7% e 100%, e não mais 100%. Um estudo sobre mais de 12.000 pessoas deverá ser publicado em breve no The Lancet e mostrar uma eficácia real inferior a 100%.

Chile – copo meio cheio ou meio vazio

No Chile, a mídia conservadora, geralmente bastante próxima do governo de Sebastián Piñera (à direita), parece achar positivo o número de 80% para evitar mortes, se quisermos acreditar em um artigo na grande mídia de direita La Tercera ou El Mercurio. No entanto, perguntamo-nos se esse número não é muito baixo e não deveria encorajar o governo chileno a optar muito mais pela vacina Pfizer/BioNTech. É verdade que a vacina Coronavac utilizada no Chile mostrou 85% de eficácia na prevenção de internações e 89% na prevenção de internações em terapia intensiva. Não há dúvida de que a vacina funciona, mas o lado negativo parece ser que ela é 80% eficaz contra a morte, não 100% como se pensava anteriormente. Por exemplo, se um país que tem 500.000 mortes de Covid-19 (os Estados Unidos têm um pouco mais) tivesse iniciado a vacinação com Coronavac no início da pandemia, esse país não teria 500.000 mortes, mas 100.000 mortes. Esse número de 100.000 mortes no exemplo é provavelmente muito alto, especialmente se vacinas melhores como as vacinas RNA estiverem disponíveis. No momento, o Chile não pode publicar resultados sobre a eficácia da vacina Pfizer, por causa da população muito pequena que a utiliza, segundo o site do grande jornal chileno La Tercera.

Possível conclusão

Em vez de derrotar completamente o vírus SARS-CoV-2, provavelmente teremos que viver com ele por muitos anos, especialmente com todas essas variantes problemáticas. Pelo menos nos países que não têm a sorte de ter as duas vacinas do ARN disponíveis, como o Brasil.

Por Xavier Gruffat (farmacêutico suíço – ETH Zurique, MBA – São Paulo – Brasil). 20 de abril de 2021. Fonte: El Mercurio, AFP, RTS, La Tercera, Veja Sáude.
Este artigo foi publicado pela primeira vez em francês em nosso site Creapharma.ch.

Observação da redação: este artigo foi modificado em 21.04.2021

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